Foi então que tiveram a brilhante ideia de "repetir" as palestras ministradas, o que ocorreu no 1º Congresso Mineiro de Gastronomia, evento que fez parte do 5º Salão Mineiro do Turismo no último dia 15, na capital.
Ao todo foram 5 apresentações feitas por parte da comitiva que atravessou o atlântico com os embornais cheios de mineiridades, cujo sucesso pôde ser confirmado nessa deliciosa e emocionante tarde. Destaque também pelos vídeos produzidos, belíssimos e de tocar não só a boca, mas principalmente o coração.
O MILHO
Iniciando os trabalhos, os chefes Edson Puiati (gerente de gastronomia do Senac-MG) e Guilherme Melo (Restaurante Hermengarda), deram uma bela aula sobre o milho, seus subprodutos, importância histórica, receitas clássicas, além de curiosidades, como a de que a canjiquinha proveniente do moinho de pedra não perde o amido.
Apresentaram o vídeo com as receitas reinventadas, onde fizeram um jogo interessante com os 4 elementos:
Fogo = curau
Ar = espuma de canjica
Terra = fubá torrado
Água = mini pipocas, feitas com canjiquinha e belíssimas por sinal.
Destacaram a todo momento a importância da pesquisa e do resgate dos produtos e técnicas tradicionais do passado, inclusive para a construção de uma gastronomia contemporânea. Como arrematou Puiati "nossa base tradicional estará sempre em voga."
TROPEIROS E FAZENDAS
Em seguida foi a vez dos chefes Rafael Cardoso (Restaurante Atlântico) e Ivo Faria (Restaurante Vecchio Sogno), que trataram respectivamente dessas duas etapas históricas da formação da gastronomia mineira: a primeira, decorrente dos tropeiros e bandeirantes, que carregavam a cozinha no lombo de burro, sendo obrigados a utilizar ingredientes secos e menos perecíveis, como a farinha e a charque, na chamada "cozinha seca". E na etapa seguinte, com o declínio do ouro e a necessidade de se fixar, o surgimento das fazendas e da sua cozinha "molhada", com o grande uso de verduras, frutas, galinhas, ovos, etc. Como definiu o jovem e talentoso chefe Rafael, essa foi a "genesi da cozinha mineira".
Apresentaram receitas clássicas como a paçoca de carne e a carne da lata, além de um interessante preparo do jiló, empanado com farinha de torresmo e recheado com linguiça e umbigo de banana.
MANDIOCA
O chefe Felipe Rameh (Restaurante Trindade) - pupilo do aclamado Alex Atala - veio em seguida para falar da mandioca, acompanhado do chefe Eduardo Avelar (Sabores de Minas), que substituiu Atala no nosso congresso.
Apresentação muito instrutiva e interessante, com a demonstração de vários tipos de farinha, videos e fotos sobre os processos de extração dos subprodutos da mandioca, definida por Rameh como "o ingrediente mais importante da cozinha brasileira". Trouxeram ainda muitas curiosidades, como a de que a mandioca brava - espécie venenosa da planta - teria sido criada propositalmente pelos índios para que animais e tribos inimigas não roubassem a plantação, desenvolvendo paralelamente a técnica para extrair seu veneno.
MINAS GERAIS - PASSADO, PRESENTE E FUTURO
Uma das palestrar que mais mexeu com o público foi a dos chefes Eduardo Maya (Comida di Buteco) e Eduardo Avelar (Sabores de Minas), com a participação ao final da Dona Nelsa Trombino (Restaurante Xapuri), uma das madrinhas e ícones da culinária mineira ao lado da Dona Lucinha, que esteve em Madrid mas infelizmente não pôde comparecer ao congresso.
Os xarás fizeram uma entrosada e divertida apresentação sobre passado, presente e futuro da nossa gastronomia, trazendo muitos dados e informações decorrentes dos belos trabalhos por eles desenvolvidos, tanto separada como conjuntamente, caso da "Conspiração Gastronômica". Impressionantes os números apresentados, assim como o levantamento dos "terroirs" do nosso estado. De acordo com Avelar "a cada 4 xícaras de café tomadas no mundo, uma é proveniente de café mineiro."
Por fim, o testemunho emocionado da Dona Nelsa, que contou sua história de vida e dedicação à gastronomia mineira, com direito a lágrimas e tudo mais.
NOVA GERAÇÃO
Para encerrar, subiram ao palco os jovens chefes Pablo Oazen (Garagem Gastronomia), Felipe Rameh (Restaurante Trindade), Fred Trindade (Restaurante Trindade) e Leonardo Paixão (Restaurante Glouton), apresentando cada um deles um prato elaborado em Madrid, todos muito interessantes e pertinentes: folhas e ervas mineiras exóticas; frango com quiabo desconstruído; lombinho com molho de doce de leite e uma bela sobremesa feita com broinha de fubá, mandioca e cagaita, que simulou visualmente o ambiente do cerrado, uma verdadeira obra de arte visual.
Finalizaram o evento em grande estilo, nos mostrando que representaram muito bem o nosso estado, assim como os demais profissionais que lá estiveram na comitiva.
E para quem ficou com água na boca, foi criada a oportunidade de degustar essas preciosidades no evento "Uai Fusión", que será promovido no Restaurante Trindade. Vale um clique no Blog do Girão para conferir os detalhes (clique aqui)
Artigo da nossa Coluna de Gastronomia do Jornal das Lajes (Resende Costa-MG) - http://www.jornaldaslajes.com.br/integra-coluna.php?i=525
Sou do mundo, sou Minas Gerais
“Ser Mineiro é não dizer o que faz, nem o que vai fazer,
é fingir que não sabe aquilo que sabe,
é falar pouco e escutar muito,
é passar por bobo e ser inteligente,
é vender queijos e possuir bancos”.
O título vem da música cantada por Milton e o trecho do poema é do Drummond. Duas figuras importantes que saíram de Minas, mas nunca deixaram Minas sair delas. E que sempre fizeram questão de mostrar nossas inúmeras riquezas, inclusive uma delas que é o nosso jeito de ser. Afinal, “minas são muitas”.
Ocorre que, por uma série de fatores históricos, culturais e até geográficos, grande parte dessas riquezas sempre foram muito bem guardadas, sobretudo a gastronomia. Tal como o ouro antigamente, cuja existência não poderia ser revelada sob pena de confisco, nossos produtos, receitas e técnicas culinárias seguiram o mesmo caminho.
Se por um lado esse segredo foi benéfico quanto à preservação interna da riqueza gastronômica - muito bem cozida em fogo baixo ao longo dos anos - por outro, já estamos passando da hora de começar a servir esse prato e colher os seus frutos. E para isso, precisamos abrir as portas das nossas despensas e quintais para o mundo.
Como bem disse o chef Eduardo Avelar, que por sinal realiza belíssimo trabalho de registro e valorização da nossa gastronomia com o “Sabores de Minas” e a “Conspiração Gastronômica”, “se antes escondíamos as refeições em gavetas sob as mesas, hoje queremos mais do que nunca mostrar a todos”.
E o ano de 2013 deve ser considerado um marco para nós mineiros: pela primeira vez na história do principal evento de gastronomia do mundo – o Madrid Fusión, na Espanha – não houve um país homenageado, mas sim um Estado. O nosso! Se nos anos anteriores o foco do festival foram nos países cuja gastronomia vem merecendo destaque mundial (Peru, México etc.), agora decidiram que Minas Gerais seria a bola da vez.
Pode-se dizer que tudo começou através do Festival de Gastronomia da nossa vizinha Tiradentes, hoje o principal do país. A convite do Governo do Estado, os organizadores do evento espanhol vieram e ficaram encantados com o que viram de perto. Não só no festival, mas no Mercado Central de BH... e quem sabe até na nossa rua do artesanato em Resende Costa. Certamente, tomaram uma boa cachaça de Salinas com um pedaço de queijo Canastra, um café do Sul de Minas com biscoito de São Tiago e comeram um frango do quintal com quiabo da horta e angu de fubá do moinho d’água. Viram a hospitalidade e o orgulho das origens que só nós mineiros temos, além das montanhas e paisagens únicas. E aí não teve jeito de não se encantar.
Para completar, um grande esforço do governo estadual com apoio político e financeiro para viabilizar a participação e lá se foi a comitiva formada por 15 chefs mineiros, que atravessaram o oceano levando no embornal parte do nosso verdadeiro tesouro, não aquele extraído das minas de ouro, mas sim dos quintais. E como já era de se esperar, fizeram tremendo sucesso, apesar do infantil e lamentável “ciúme” do resto do país, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro.
Nossos representantes foram responsáveis pelo coquetel de abertura do evento e serviram não só clássicos como a rabada com agrião, paçoca de carne serenada, pastel de angu e pão de queijo, mas também pratos mais contemporâneos feitos com nossos ingredientes. Assim, mostraram que nossa cozinha não vive só de uma sólida raiz do passado, mas também tem as suas asas para o futuro e, se bem valorizada e divulgada, pode trazer inúmeros frutos para todos nós, a começar pelo homem do campo.
Enfim, chegou a hora de entender de uma vez por todas que somos muito mais ricos do que imaginamos e que por isso podemos ser do mundo, mas sem abrir mão de ser Minas Gerais.
é fingir que não sabe aquilo que sabe,
é falar pouco e escutar muito,
é passar por bobo e ser inteligente,
é vender queijos e possuir bancos”.
O título vem da música cantada por Milton e o trecho do poema é do Drummond. Duas figuras importantes que saíram de Minas, mas nunca deixaram Minas sair delas. E que sempre fizeram questão de mostrar nossas inúmeras riquezas, inclusive uma delas que é o nosso jeito de ser. Afinal, “minas são muitas”.
Ocorre que, por uma série de fatores históricos, culturais e até geográficos, grande parte dessas riquezas sempre foram muito bem guardadas, sobretudo a gastronomia. Tal como o ouro antigamente, cuja existência não poderia ser revelada sob pena de confisco, nossos produtos, receitas e técnicas culinárias seguiram o mesmo caminho.
Se por um lado esse segredo foi benéfico quanto à preservação interna da riqueza gastronômica - muito bem cozida em fogo baixo ao longo dos anos - por outro, já estamos passando da hora de começar a servir esse prato e colher os seus frutos. E para isso, precisamos abrir as portas das nossas despensas e quintais para o mundo.
Como bem disse o chef Eduardo Avelar, que por sinal realiza belíssimo trabalho de registro e valorização da nossa gastronomia com o “Sabores de Minas” e a “Conspiração Gastronômica”, “se antes escondíamos as refeições em gavetas sob as mesas, hoje queremos mais do que nunca mostrar a todos”.
E o ano de 2013 deve ser considerado um marco para nós mineiros: pela primeira vez na história do principal evento de gastronomia do mundo – o Madrid Fusión, na Espanha – não houve um país homenageado, mas sim um Estado. O nosso! Se nos anos anteriores o foco do festival foram nos países cuja gastronomia vem merecendo destaque mundial (Peru, México etc.), agora decidiram que Minas Gerais seria a bola da vez.
Pode-se dizer que tudo começou através do Festival de Gastronomia da nossa vizinha Tiradentes, hoje o principal do país. A convite do Governo do Estado, os organizadores do evento espanhol vieram e ficaram encantados com o que viram de perto. Não só no festival, mas no Mercado Central de BH... e quem sabe até na nossa rua do artesanato em Resende Costa. Certamente, tomaram uma boa cachaça de Salinas com um pedaço de queijo Canastra, um café do Sul de Minas com biscoito de São Tiago e comeram um frango do quintal com quiabo da horta e angu de fubá do moinho d’água. Viram a hospitalidade e o orgulho das origens que só nós mineiros temos, além das montanhas e paisagens únicas. E aí não teve jeito de não se encantar.
Para completar, um grande esforço do governo estadual com apoio político e financeiro para viabilizar a participação e lá se foi a comitiva formada por 15 chefs mineiros, que atravessaram o oceano levando no embornal parte do nosso verdadeiro tesouro, não aquele extraído das minas de ouro, mas sim dos quintais. E como já era de se esperar, fizeram tremendo sucesso, apesar do infantil e lamentável “ciúme” do resto do país, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro.
Nossos representantes foram responsáveis pelo coquetel de abertura do evento e serviram não só clássicos como a rabada com agrião, paçoca de carne serenada, pastel de angu e pão de queijo, mas também pratos mais contemporâneos feitos com nossos ingredientes. Assim, mostraram que nossa cozinha não vive só de uma sólida raiz do passado, mas também tem as suas asas para o futuro e, se bem valorizada e divulgada, pode trazer inúmeros frutos para todos nós, a começar pelo homem do campo.
Enfim, chegou a hora de entender de uma vez por todas que somos muito mais ricos do que imaginamos e que por isso podemos ser do mundo, mas sem abrir mão de ser Minas Gerais.
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