Se Belo Horizonte é uma das capitais mais "cosmopolitas" em relação ao seu estado, com forte povoamento e relação com todos os cantos do seu interior, o Mercado Central da cidade é uma prova viva disso. É um resumo de um estado (que parece um país), dentro de um quarteirão do centro da cidade.
É botar os pés lá dentro e se sentir ao mesmo tempo em todos as grotas das muitas minas gerais. Do sul dos cafés ao norte das cachaças, passando pelos queijos, doces, carnes, verduras e artesanato do meio do caminho. Ao mesmo tempo tudo misturado na mesma panela e servido com uma hospitalidade e orgulho únicos. Não há como não se encantar.
85 anos de história, umas 500 lojas e uma boa chance de se perder nos seus cantos e corredores em forma de cebola. Mas se perdendo lá dentro é que você se encontra no lugar.
No meio de tanta coisa interessante, separamos algumas delas, entre as lojas e coisas que mais consumimos e aproveitamos.
Começando, claro, pelos queijos: são muitas opções, com um predomínio maior dos ditos como da Serra da Canastra. A Loja do Itamar é um dos lugares interessantes, haja vista a variedade de queijos mineiros, inclusive dos produtores mais badalados e disputados do momento (Zé Mário, Valtinho, Miguel, João Melo, etc).
Não compare o preço desses queijos com um queijo comum. Pense em um queijo fino, diferenciado, para degustar em determinadas ocasiões. |
Se quiser uma versão mais fresca, peça para pegar no resfriador. |
As rapas que formam no tacho são incorporadas no requeijão. É a melhor parte. |
E olha que o que mais tem em Minas é doce de leite bom. Muito mais que no Uruguai. |
A branca (prata) é a que mais gostamos. Cachaça quando é boa não precisa de muita madeira nem cor. |
Defumados de formiga, aliás, de porco, da cidade de Formiga. |
Até outro dia a balança era daquelas antigas e os produtos ficavam em enormes sacos. |
Alho e cebola também em réstia, que ainda enfeitam a cozinha. |
Destaque para um feijão especialíssimo, não muito conhecido, raro de encontrar nos dias de hoje e delicioso: o feijão rapé. Como ainda tem uma textura muito boa quando cozido, é perfeito para fazer nosso querido feijão tropeiro.
Lindo feijão. |
Passando pro corredor de dentro, parada pra comprar a mandioca e a manteiga de garrafa na banca do Carlos.
Manteiga de garrafa substitui deliciosamente a manteiga normal no dia a dia, pra quase tudo. |
É a fruta que mais tem nomes diferentes: capeta, galego, vermelho, rosa, do rio, de moça, cravo, mixirica capeta... |
Antônio, filho do Sô Gabriel. Loja reformada recentemente. |
Se não conhece ainda, aproveite pra levar um punhado de pimenta de macaco (ou "de árvore", "de pau"), essa especiaria nossa que dá em árvore, com aroma que lembra a do reino, ideal para marinadas e molhos.
Grãos graúdos e duros |
A Bahia leva a fama das pimentas, mas não sei não... |
Para cozinhar tudo isso, panela é o que não falta. Principalmente as típicas mineiras, de ferro fundido e pedra sabão, além dos tachos de cobre, discos de arado, chapas e tudo quanto há de utensílios. Frequentamos muito a Loja do Nem (outro comerciante antigo de lá), principalmente a que é comandada pela sua filha Aléxia e seu marido Júnior, casal simpático e atencioso do mercado.
A segunda loja fica atrás da loteria. |
Enquanto bebe o café, aproveite pra pedir pra embalar (e verificar na luz) sua dúzia de ovo caipira na loja ao lado, que vale cada centavo a mais do que os ovos sem graça de granja. O preço pode variar de acordo com o humor das galinhas.
Na Loja do Itamar (dos queijos), também se compra ovo caipira, direto da roça dele, às vezes mais barato. |
Já viu refrigerante de abacate? Lá tem o "Abacatinho", da zona da mata mineira |
Lá é tão típico que antigamente já teve manequim na vitrine com camisa do Hezbollah!!! |
Mesas democráticas e limonada suíça muito boa. O "Americano" é do futebol, do América Mineiro, não do país. |
A textura e o brilho do caldo é o cartão de visita duma feijoada. Caldo ralo, sem vida, e feijões perdidos são um péssimo sinal. |
O Casa Cheia, que funciona como bar e restaurante, é outra referência do mercado, com destaque para os tira-gostos premiados no festival Comida di Buteco, que também funcionam como pratos. Ele fica no corredor do artesanato, suspenso em relação ao resto do mercado.
Na "foto", a Dona Maria, precursora da casa tocada pela família. |
Caixotes bacanas e artesanato de tear de Resende Costa-MG. |
Foto Alessandra Blanco, site da Vogue Brasil |
O sabor (pra não dizer "sujeira") acumulado na chapa é o grande diferencial dos tira-gostos do mercado. Em casa nunca ficará igual. |
A maioria dos bares têm a peculiaridade de ficarem espremidos em um beco entre corredores, somente com um balcão democraticamente compartilhado. Todos bebendo em pé e, aos finais de semana, de forma bem concorrida. Quem tiver afim de um chope artesanal da cervejaria mineira Backer, o Butiquim do Antônio é o lugar (entrada Augusto de Lima):
Movimento de um dia comum durante a semana, momento perfeito de visita ao mercado. Aos sábados e domingos ficam bem mais cheios. |
Antes de ir embora, uma coisa que pode parecer estranha, mas para nós não é: dar uma passada na Tabacaria Arapiraca só pra sentir o aroma da loja (e eventualmente comprar um palmo de fumo pro cigarro de palha). A mistura do cheiro dos vários tipos de rolos de fumo com as pimentas, o café moído na hora e os alhos descascados que ficam no balcão forma um cheiro especial e único.
Cheiro vivo que limpa a alma. |
Ao contrário dos supermercados, a proximidade com os ingredientes e produtos, os laços criados com os vendedores e a possibilidade de provar e pechinchar tornam as compras no mercado muito mais prazerosas, justas e ideais.
Viva o Mercado Central! Viva Minas Gerais!
Serviço:
Funcionamento de segunda a sábado de 7h às 18h, domingo e feriados de 7h às 13h.
Se estiver nos bares antes de fechar eles ficam abertos por mais uma hora.
Tem um amplo estacionamento no piso superior.
Mais informações, fotos, mapa, história: http://www.mercadocentral.com.br/